Eu não lembro mais quando foi a última vez que te vi sentada no sofá tipo criança, tomando aqueles seus chás amargos e pedindo para ganhar massagem nos pés. Às vezes olho para o canto da sala onde ficavam suas plantas e consigo te ver regando cada uma com tanto cuidado e tranquilidade. Não vejo mais seus tênis jogados no canto do quarto, nem seu pijama dobrado com cuidado em cima do travesseiro toda noite.
Procuro sem querer seus cremes coloridos no banheiro e me lembro de como a casa toda ficava cheirosa quando você terminava o banho. Me permito sentir sua falta e ouvir aquele pendrive antigo que ficou perdido lá no carro, com todas as suas músicas. Sinto a sua presença ao meu lado cantando com a mão pra fora do carro me fazendo rir. Tenho medo de abrir aquela gaveta e dar de cara com as suas fotos que guardei por lá, por receio de esquecer seus olhos.
Quando deito pra dormir o sono faz graça e vai embora. Fecho os olhos e me vem seu sorriso de moleca, sua imagem cada dia menos nítida na minha memória. E me esforço pra lembrar com detalhes de cada pintinha do seu rosto e não consigo mais com tanta facilidade. Me invade um medo sorrateiro de esquecer seus detalhes, suas mãos pequenas, olhar melancólico, sorriso solto, a textura da sua pele, seu cheiro e seu cabelo bagunçado.
Me arrependi de te deixar ir. Hoje entendo sua força na minha vida. Passou, você foi, tem uma nova casa, novos trejeitos, músicas e manias. E eu fiquei aqui, já nem sei dizer se sou o mesmo, se amadureci ou me tornei criança outra vez. Estou aqui, brigando com o relógio para que volte, fantasiando um encontro, uma chance de fazer tudo outra vez, mas sem te perder no final. Tenho tantos finais pra nós mas nenhum se resume a você aí e eu aqui. Se você soubesse a falta que faz... Se eu te deixasse saber, você voltaria?